Séries históricas que retratam os bastidores das cortes europeias: intrigas, poder e drama real.

O universo das cortes europeias sempre exerceu um enorme fascínio sobre o público. Repleto de intrigas políticas, romances proibidos, jogos de poder e disputas dinásticas, esse cenário histórico é terreno fértil para narrativas envolventes. Ao longo dos séculos, a realeza europeia protagonizou acontecimentos marcantes que moldaram não apenas a história do continente, mas também o imaginário coletivo.

Nos últimos anos, esse interesse tem se refletido no crescente sucesso das séries históricas, que conquistaram espaço nas principais plataformas de streaming. Com produções cada vez mais sofisticadas, essas obras mesclam fidelidade histórica com liberdade criativa, oferecendo ao espectador uma experiência visualmente rica e narrativamente cativante.

Este artigo apresenta uma seleção de séries históricas que retratam os bastidores das cortes europeias, explorando suas tramas, contextos e personagens marcantes. O objetivo é indicar produções imperdíveis para quem deseja mergulhar no fascinante mundo da realeza, onde luxo e poder andam lado a lado com escândalos e reviravoltas.

Séries históricas imperdíveis que retratam as cortes europeias

Selecionamos a seguir algumas das principais produções televisivas que exploram os bastidores do poder nas cortes europeias. Cada uma delas oferece uma visão singular sobre os desafios, escândalos e dinâmicas internas de diferentes períodos e contextos históricos.

The Crown (2016 – presente)

Contexto: Reino Unido – Século XX

The Crown é uma das séries mais prestigiadas da última década, reconhecida por sua excelência técnica, profundidade narrativa e abordagem sensível da história recente da monarquia britânica. Criada por Peter Morgan, a produção acompanha, temporada após temporada, os principais eventos do reinado de Elizabeth II, desde sua ascensão ao trono em 1952 até os desafios enfrentados pela Casa de Windsor nas últimas décadas.

A série destaca-se por retratar, com apuro dramático, os dilemas enfrentados pela rainha como chefe de Estado e como figura pública submetida a um papel institucional rígido, muitas vezes em conflito com suas emoções e relações familiares. O roteiro equilibra grandes acontecimentos políticos — como a Crise de Suez, a Guerra das Malvinas, o governo de Margaret Thatcher e a morte da princesa Diana — com tramas mais íntimas, que revelam o peso do dever, as tensões no casamento real e os conflitos geracionais dentro da família.

Outro aspecto notável de The Crown é sua produção meticulosa: cenários majestosos, figurinos fiéis à época e um cuidado extremo na ambientação histórica ajudam a construir uma atmosfera verossímil e envolvente. A cada duas temporadas, o elenco principal é renovado para representar com fidelidade o envelhecimento dos personagens ao longo dos anos — uma decisão artística que contribui para a autenticidade da narrativa.

Mais do que uma biografia televisiva, The Crown se propõe a refletir sobre o impacto da monarquia em uma sociedade moderna e em constante transformação, questionando os limites entre tradição e mudança, poder e privacidade. A série conquistou diversos prêmios — incluindo Globos de Ouro e Emmys — e continua a ser um marco na forma como o audiovisual contemporâneo aborda a história viva.

Disponível em: Netflix

Versailles (2015–2018)

Contexto: França – Século XVII

Versailles é uma produção franco-canadense que mergulha no reinado de Luís XIV, conhecido como o “Rei Sol”, e acompanha o processo de consolidação de seu poder absoluto, tendo como pano de fundo a construção do suntuoso Palácio de Versalhes — símbolo máximo da monarquia francesa em sua expressão mais opulenta e centralizadora.

A série tem início nos anos iniciais do reinado de Luís XIV, quando o jovem monarca decide transferir a corte de Paris para o antigo pavilhão de caça de seu pai, em Versalhes, transformando-o gradualmente no mais imponente centro político, artístico e cultural da Europa. Essa decisão, além de arquitetônica, revela-se estratégica: ao reunir a nobreza sob seus olhos, o rei busca controlar seus aliados e rivais mais próximos, afastando ameaças e consolidando sua autoridade.

Ao longo de suas três temporadas, Versailles retrata os bastidores da corte com intensidade: conspirações palacianas, intrigas amorosas, rivalidades políticas e disputas de poder moldam o cotidiano dos nobres e cortesãos. A série também aborda temas delicados como a repressão religiosa, a política expansionista do rei e os desafios de governar um império que exige lealdade irrestrita.

Visualmente impressionante, Versailles se destaca por sua direção de arte exuberante, com figurinos luxuosos, cenários ricamente decorados e uma fotografia que valoriza a teatralidade e o excesso da corte barroca. Ao mesmo tempo, não deixa de explorar o lado humano do monarca — seus conflitos internos, suas paixões e sua luta por manter o controle sobre uma França instável.

Embora adote algumas simplificações narrativas e explore aspectos ficcionalizados, a série oferece uma rica introdução ao contexto do absolutismo francês e à figura de Luís XIV, cujo legado moldou não apenas a história da França, mas influenciou modelos de poder em toda a Europa.

Disponível em: Globoplay e outras plataformas

The Tudors (2007–2010)

Contexto: Inglaterra – Século XVI

Ambientada durante o reinado de Henrique VIII, The Tudors é uma série que dramatiza os eventos políticos e pessoais que marcaram um dos períodos mais turbulentos da história inglesa. Ao longo de suas quatro temporadas, a produção acompanha a trajetória do monarca desde sua juventude até os últimos anos de seu governo, destacando suas decisões mais controversas e as consequências que delas advieram para o trono, a Igreja e a população inglesa.

A série é particularmente conhecida por abordar, com intensidade dramática, os múltiplos casamentos de Henrique VIII e a ruptura com a Igreja Católica, que levou à criação da Igreja Anglicana — marco crucial da Reforma Inglesa. Ao mesmo tempo, oferece uma visão dos bastidores da corte Tudor, onde alianças estratégicas, ambição política e traições moldavam o destino dos personagens.

Jonathan Rhys Meyers interpreta um rei jovem, impulsivo e carismático, cuja busca por um herdeiro masculino e por reconhecimento político o leva a desafiar convenções religiosas, diplomáticas e morais. A série também dá destaque a figuras como Ana Bolena, Thomas More, Catarina de Aragão e Thomas Cromwell, entre outros personagens históricos fundamentais para o entendimento do período.

Embora adote algumas licenças poéticas em relação à cronologia e aos fatos, The Tudors é uma introdução envolvente à complexidade da dinastia Tudor e ao clima de instabilidade e transformação que marcou o século XVI na Inglaterra. Seu apelo visual, a qualidade do elenco e a intensidade dos conflitos fazem dela uma das produções mais influentes do gênero.

Disponível em: Prime Vídeo e outras plataformas

Victoria (2016–2019)

Contexto: Inglaterra – Século XIX

Victoria é uma série britânica que retrata os primeiros anos de reinado da Rainha Vitória, uma das monarcas mais emblemáticas da história do Reino Unido. Criada por Daisy Goodwin, a produção se inicia com a ascensão de Vitória ao trono aos 18 anos, em 1837, e acompanha sua trajetória pessoal e política até os primeiros anos do casamento com o Príncipe Albert.

A série se destaca por mostrar a construção da imagem pública e privada da jovem rainha em um período de grandes transformações sociais, políticas e tecnológicas. Ainda inexperiente, Vitória precisa aprender rapidamente a lidar com a responsabilidade do trono, as expectativas da corte e os jogos de influência da aristocracia, além de afirmar sua autoridade em meio a um ambiente dominado por homens mais velhos e experientes.

Ao longo das três temporadas, Victoria aborda momentos-chave como o casamento real, os primeiros nascimentos da família real, as tensões com o Parlamento e as mudanças que marcariam o longo período vitoriano — época de expansão imperial, inovação industrial e redefinição dos papéis sociais. A série também revela o impacto emocional e político da relação entre Vitória e Albert, retratando-o não apenas como consorte, mas como um parceiro intelectual e político fundamental na vida da monarca.

Visualmente refinada, Victoria investe em cenários detalhados, trajes históricos exuberantes e uma trilha sonora envolvente, que ajudam a construir a atmosfera de uma época marcada tanto pelo esplendor quanto pela rigidez moral e social. Jenna Coleman, no papel da rainha, oferece uma interpretação sensível e poderosa, revelando as vulnerabilidades e a determinação de uma jovem mulher em uma posição de autoridade incomum para sua idade e seu tempo.

Embora tome certas liberdades narrativas para fins dramáticos, a série é elogiada por seu compromisso com a precisão histórica e por iluminar uma fase muitas vezes menos explorada da monarquia britânica: o início do reinado que se tornaria o mais longo até então, e que daria nome a uma era inteira.

Disponível em: Prime Vídeo e outros canais

Maria Antonieta (2022–)

Contexto: França – Século XVIII

A série Maria Antonieta, lançada em 2022, oferece uma abordagem contemporânea e intimista da trajetória da jovem arquiduquesa austríaca que, ainda na adolescência, foi enviada à França para se tornar rainha. Criada por Deborah Davis (roteirista de A Favorita), a produção busca reconstituir os bastidores da corte de Versalhes a partir da perspectiva da própria Maria Antonieta, desde sua chegada ao país até os primeiros sinais de crise que antecedem a Revolução Francesa.

O grande mérito da série está na tentativa de humanizar uma figura histórica que, por séculos, foi reduzida a um símbolo de excessos e alienação da aristocracia. Ao focar em sua juventude, inseguranças, conflitos internos e nos desafios de adaptação a uma cultura rígida e cheia de códigos sociais, a série permite que o público compreenda Maria Antonieta como uma personagem complexa — dividida entre seu papel político e seus desejos pessoais.

A ambientação é outro ponto alto da produção: Maria Antonieta apresenta uma reconstituição minuciosa do luxo e das tensões da corte de Luís XVI. Os figurinos — que mesclam fidelidade histórica com toques modernos — e os cenários grandiosos do Palácio de Versalhes ajudam a transportar o espectador para um universo de opulência e vigilância constante. Ao mesmo tempo, a série não ignora os aspectos políticos do período, como as disputas internas na família real, a pressão por gerar um herdeiro e a crescente impopularidade da rainha junto ao povo francês.

Mesmo que tome certas liberdades criativas, a produção se baseia em fontes históricas para apresentar uma versão mais empática da personagem, explorando seus momentos de fragilidade, resistência e tentativa de sobrevivência em uma corte que, apesar do esplendor, era implacável com quem desafiava as convenções.

Disponível em: Canal GNT e Globoplay (Brasil)

Catherine the Great (2019)

Contexto: Rússia – Século XVIII

A minissérie Catherine the Great, lançada pela HBO em 2019, retrata os anos finais do reinado de Catarina II, uma das figuras mais marcantes e influentes da história da Rússia e da Europa. Interpretada com imponência por Helen Mirren, a produção oferece uma visão madura, política e emocional da imperatriz que transformou o Império Russo em uma potência moderna, ao mesmo tempo em que desafiava os limites impostos às mulheres no poder.

Diferente de outras produções que abordam a juventude de Catarina, esta série concentra-se em seu período de governo consolidado, quando já havia assumido o trono após um golpe de Estado que destituiu seu marido, Pedro III. O foco está em sua liderança firme, nas intrigas palacianas e nas alianças – tanto políticas quanto afetivas – que marcaram sua trajetória. A relação com Grigory Potemkin, seu conselheiro e amante, ocupa lugar central na narrativa, sendo apresentada como uma parceria que ultrapassa os limites do romance e se torna fundamental para as decisões de Estado.

Com apenas quatro episódios, Catherine the Great aposta em um ritmo mais contido, priorizando os diálogos densos, os debates filosóficos e os bastidores das estratégias imperiais, em vez de sequências de ação. A série também retrata o esforço da imperatriz em modernizar a Rússia, influenciada pelas ideias do Iluminismo, ao mesmo tempo em que precisava manter o controle sobre uma nobreza conservadora e um povo frequentemente insatisfeito.

A produção é notável por sua direção de arte sofisticada, com figurinos exuberantes, cenários palacianos grandiosos e uma fotografia que reforça a atmosfera de poder, isolamento e tensão constante. A performance de Helen Mirren é um dos destaques absolutos, conferindo profundidade à figura histórica de Catarina: uma mulher culta, estratégica e carismática, que governou com mão firme em um ambiente dominado por homens.

Apesar de condensar e adaptar certos eventos históricos, a série oferece um retrato elegante e incisivo da complexidade que envolvia o trono russo e da força singular de uma mulher que, contrariando expectativas, reinou sozinha em um dos maiores impérios do mundo.

Disponível em: HBO Max

Becoming Elizabeth (2022)

Contexto: Inglaterra – Século XVI

Becoming Elizabeth é uma série que propõe um olhar renovado sobre os anos formativos de Elizabeth I, uma das monarcas mais notáveis da história inglesa. Diferente de outras produções que focam no auge de seu reinado, a série se concentra no período imediatamente posterior à morte de Henrique VIII, quando a jovem Elizabeth Tudor, ainda adolescente, precisa encontrar seu lugar em uma corte dividida, instável e repleta de perigos.

A produção, criada por Anya Reiss e lançada pela Starz em 2022, destaca o vácuo de poder que se instala após a morte do rei e o reinado breve e problemático de seu filho, Eduardo VI. Neste contexto, Elizabeth, filha de Ana Bolena, aparece como uma figura de importância ambígua — próxima da linha de sucessão, mas politicamente vulnerável. A série explora com intensidade dramática as ameaças à sua segurança, os jogos de influência ao seu redor e, principalmente, os conflitos internos de uma jovem inteligente, observadora e em formação como estadista.

Um dos eixos centrais da narrativa é o relacionamento entre Elizabeth e Thomas Seymour, cunhado de Henrique VIII, cuja relação ambígua – ora protetora, ora abusiva – é retratada de forma crua e questionadora. A série não evita os temas delicados: aborda a sexualização precoce de Elizabeth, a complexidade das disputas dinásticas, e o papel das mulheres na política de um país ainda profundamente patriarcal.

Visualmente, Becoming Elizabeth opta por uma estética mais sóbria e realista do que outras séries sobre o mesmo período. Os figurinos, embora fiéis à época, não romantizam o passado, e a ambientação privilegia a tensão constante entre fragilidade e força que marca a juventude da futura rainha.

Apesar de ter tido apenas uma temporada até o momento, a série é elogiada por trazer uma abordagem mais sombria, introspectiva e histórica da jovem Elizabeth, oferecendo uma perspectiva diferente da figura que viria a se tornar a lendária “Rainha Virgem”. É uma produção indicada especialmente para quem deseja entender como as experiências do início da vida de Elizabeth moldaram sua postura firme e estratégica no trono inglês.

Disponível em: StarzPlay

Conclusão

As séries históricas que retratam os bastidores das cortes europeias vão muito além do entretenimento. Elas oferecem uma janela – ainda que estilizada – para os complexos jogos de poder, as relações interpessoais e os dilemas enfrentados por figuras centrais na história da Europa. Ao unir riqueza estética, personagens marcantes e tramas envolventes, essas produções conquistaram o público ao redor do mundo e se tornaram importantes ferramentas de difusão cultural.

Se você ainda não explorou essas séries, esta é uma excelente oportunidade para começar. E, caso já tenha assistido a algumas delas, revisitar essas histórias com novas perspectivas pode torná-las ainda mais instigantes. Afinal, nas cortes europeias, sempre há mais um segredo à espera de ser descoberto.

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